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A Jornada do Ego: Lições da Mitologia Indiana, Budismo, Psicanálise e os Desafios da Autoafirmação
A Jornada do Ego:
Lições
da Mitologia Indiana, Budismo, Psicanálise e os Desafios da Autoafirmação
A
formação do ego é um tema profundo que atravessa tradições espirituais e
disciplinas psicológicas, iluminando aspectos da condição humana. Na mitologia
indiana, particularmente no hinduísmo e no budismo, o ego é frequentemente
visto como uma ilusão que obscurece a verdadeira essência do ser. A relação
entre esses conceitos e as ideias psicanalíticas, bem como os desafios da
autoafirmação na modernidade, oferece uma perspectiva rica para compreender
como o ego molda nossas experiências e interações no mundo.
No
hinduísmo, o conceito de ahamkara ("eu-formador") refere-se ao ego
que emerge quando a consciência universal (Atman) se identifica erroneamente
com o corpo e a mente. Esse falso senso de identidade cria uma ilusão de
separação, alimentando desejos, apegos e sofrimento. Transcender o ahamkara é
um dos principais objetivos da prática espiritual, permitindo que o indivíduo
reconheça sua unidade com o divino cósmico.
De
forma semelhante, o budismo descreve o ego como uma construção mental ilusória
que perpetua o sofrimento. A doutrina das "três marcas da existência"
— impermanência (anicca), insatisfação (dukkha) e ausência de um eu fixo
(anatta) — desafia a noção de um "eu" permanente. A prática budista,
centrada na meditação e no insight, visa desmontar essa ilusão, permitindo a
libertação do ciclo de sofrimento (samsara).
Na
psicanálise, Sigmund Freud propôs uma visão diferente do ego, descrevendo-o
como a instância mediadora entre os impulsos instintivos do id, as demandas
morais do superego e a realidade externa. Embora essencial para o funcionamento
psíquico, o ego pode criar mecanismos de defesa que mascaram conflitos
internos, às vezes reforçando ilusões sobre quem realmente somos. A psicanálise
busca revelar essas camadas, promovendo uma integração mais autêntica do self.
Carl
Jung, outro pilar da psicologia, expandiu o entendimento do ego ao relacioná-lo
com o "self", que ele considerava a totalidade psíquica. Para Jung, o
ego é necessário, mas limitado. A individuação — o processo de integrar
aspectos conscientes e inconscientes da psique — requer a superação da
identificação exclusiva com o ego, permitindo a reconexão com a totalidade do
ser.
Na
contemporaneidade, a formação do ego
enfrenta novos desafios. Vivemos em uma era que incentiva a autoafirmação
constante, muitas vezes alimentada por redes sociais e valores individualistas.
A construção da identidade pessoal, agora mais pública e visível, pode
amplificar o ahamkara e apegos ilusórios.
Por
outro lado, práticas como mindfulness, meditação e terapias integrativas têm
ganhado espaço, muitas vezes bebendo das fontes hinduístas e budistas. Essas
abordagens convidam à reflexão sobre a natureza transitória e interdependente
da existência, ajudando a equilibrar o impulso moderno de autoafirmação com um
reconhecimento mais profundo da impermanência e da conexão universal. Ao unir
as perspectivas da mitologia indiana, do budismo e da psicanálise, podemos
entender o ego não apenas como um obstáculo, mas também como um ponto de
partida para a transformação. Ele é tanto a ilusão que nos separa quanto a
ponte que pode nos levar à reconexão com nossa verdadeira essência. Na prática
diária, transcender o ego não significa negá-lo, mas integrá-lo de forma
consciente, reconhecendo suas limitações e seu papel no nosso desenvolvimento
pessoal e espiritual.
Assim,
o desafio contemporâneo é duplo: cultivar uma autoafirmação saudável que
reconheça nossas individualidades, sem perder de vista a impermanência e a
interdependência que nos conectam a algo maior, no caso a sociedade. Não
devemos esquecer que somos seres sociais e o coletivo interferem
consideravelmente na estruturação de nosso “Eu” (Ego).
Referências
Bayona,
M. G. (2014). O budismo como una espiritualidade não religiosa. Horizonte:
revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religiao, 12(35), 975-986.
Lenzi,
R. G. (2014). Narrativas de constituição do sujeito na antiguidade e atualidade
em Bhagavad-Gita e Ramayan 3392 AD.
Freud,
S. (2020). Sigmund Freud: obras completas (Vol. 17). Wisehouse.
Urban,
E. (2005). Fordham, Jung and the self: a re‐examination of Fordham's contribution to
Jung's conceptualization of the self. Journal of Analytical Psychology, 50(5),
571-594.
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