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O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas"

  O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas" O ambiente escolar contemporâneo tem se transformado em um campo complexo de interações emocionais intensas, tensões silenciosas e manifestações de comportamentos que escapam às compreensões tradicionais da disciplina e da pedagogia. Professores, diariamente, se deparam com o desafio de ensinar conteúdos curriculares em meio a um mal-estar que ultrapassa as barreiras do pedagógico, alcançando as esferas emocionais e relacionais. A sala de aula, longe de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, revela-se cada vez mais como um espaço de conflito psíquico e de revelação de aspectos inconscientes tanto dos alunos quanto dos educadores. Diante dessa realidade, é necessário recorrer a olhares mais profundos e complexos para compreendermos o que está em jogo. A psicanálise, especialmente a contribuição de Melanie Klein, oferece ferramentas potentes para pensar os impasses das relaçõe...

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O Ego na Mitologia Grega e Sua Relação com a Psicanálise e as Sociedades Contemporâneas



 O Ego na Mitologia Grega e Sua Relação com a Psicanálise e as Sociedades Contemporâneas

 A mitologia grega oferece uma rica base simbólica para refletir sobre o papel do ego e suas manifestações, conceitos que encontram ecos profundos na psicanálise e nas dinâmicas das sociedades contemporâneas. Ao explorar os mitos gregos, somos apresentados a narrativas que encapsulam as complexidades da condição humana, suas ambições, vulnerabilidades e os desafios do autoconhecimento. Figuras como Prometeu e Narciso personificam aspectos fundamentais da relação do indivíduo consigo mesmo e com o coletivo, expondo as tensões entre autonomia, responsabilidade e as armadilhas da obsessão.

Prometeu, um dos titãs mais icônicos da mitologia grega, desafia os deuses ao roubar o fogo e entregá-lo à humanidade. Esse gesto heroico simboliza a coragem, a busca pelo progresso e a transcendência. No contexto psicanalítico, Prometeu pode ser visto como um arquétipo do impulso criativo, representando o conflito entre os desejos individuais e as restrições impostas pela sociedade e pela moralidade — o que Freud denominou como o embate entre o ego e o superego.

O fogo de Prometeu não é apenas uma fonte de luz e calor, mas também um símbolo do conhecimento, da consciência e do poder. Contudo, o ato de desafiá-lo à autoridade divina traz consequências severas: Prometeu é condenado a ter seu fígado devorado eternamente por uma águia. Essa punição pode ser interpretada como uma representação da culpa ou do sofrimento que acompanha a ousadia de ultrapassar limites. Da mesma forma, o indivíduo contemporâneo, ao buscar autonomia e inovação, frequentemente enfrenta dilemas éticos, pressões sociais e os custos emocionais de suas escolhas.

Nas sociedades modernas, o mito de Prometeu ressoa na valorização da ciência e da tecnologia, que oferecem ferramentas para a emancipação humana, mas também geram desafios éticos e ambientais. A obsessão pelo progresso pode levar à hybris, o orgulho excessivo que causa desequilíbrios nas relações entre indivíduos e entre a humanidade e a natureza. É necessário, portanto, um equilíbrio entre a busca por conhecimento e a responsabilidade coletiva, para que o fogo de Prometeu não consuma aquilo que deveria iluminar.

Enquanto Prometeu simboliza a expansão do ego em direção ao coletivo e à criação, Narciso representa o oposto: o ego que se volta exclusivamente para si mesmo. Na mitologia grega, Narciso é um jovem de beleza inigualável que se apaixona por sua própria imagem refletida na água, incapaz de desviar o olhar ou estabelecer conexões autênticas com o mundo exterior. Eventualmente, sua obsessão o consome, levando-o à morte e à transformação em uma flor que leva seu nome.

A psicanálise freudiana identifica no mito de Narciso o conceito de narcisismo, um estado em que a energia psíquica é direcionada para o próprio eu, comprometendo a capacidade de se relacionar com os outros. Embora o narcisismo seja um componente essencial no desenvolvimento da identidade, seu excesso pode gerar transtornos, como a incapacidade de lidar com frustrações ou a dependência excessiva de validação externa.

Nas sociedades contemporâneas, o mito de Narciso assume uma dimensão alarmante. Vivemos em uma era marcada pela cultura da imagem, onde redes sociais promovem a exibição constante de uma identidade idealizada. A busca por curtidas, seguidores e aprovação digital reflete uma forma moderna de narcisismo, que pode levar ao isolamento emocional, à ansiedade e a problemas de autoestima. Além disso, o consumo excessivo de imagens e informações reforça a superficialidade nas relações, dificultando a construção de conexões genuínas e empáticas.

A psicanálise, ao explorar os conflitos entre o id (os impulsos instintivos), o ego (mediador consciente) e o superego (as normas internalizadas), oferece uma lente valiosa para interpretar os mitos gregos no contexto atual. Prometeu e Narciso representam forças opostas que moldam a condição humana: a expansão e a retração, a criação e a estagnação. O indivíduo contemporâneo enfrenta o desafio de equilibrar essas tendências, promovendo o desenvolvimento de um ego saudável que possa mediar os desejos pessoais e as demandas coletivas.

A mitologia grega permanece uma ferramenta poderosa para refletir sobre as dinâmicas humanas, pois transcende barreiras culturais e temporais. Ela nos lembra da importância do autoconhecimento e do equilíbrio entre as forças que moldam nossa existência. Em um mundo cada vez mais fragmentado, esses mitos oferecem insights preciosos para compreender os desafios do ego e promover uma convivência mais harmônica. A chave está em reconhecer que tanto Prometeu quanto Narciso habitam dentro de cada indivíduo, e que o verdadeiro progresso depende de nossa capacidade de integrar esses aspectos em busca de um equilíbrio dinâmico e criativo.

Referências

Campbell, J., & Moyers, B. (2022). O poder do mito. Palas Athena Editora.

CAMPBELL, Joseph.  As máscaras de Deus. Mitologia Ocidental. Tradução Carmen Fischer. - São Paulo: Palas Atenas 1992. 424 p.

de Jesus, C. A. S. (2016). 83 O embate de Orfeu e Narciso contra Prometeu: a relação entre renúncia e satisfação instintual na obra de Marcuse. Argumento, (13), 83-97.

Dixe, S. (2021). Os deuses são uma funcção do estylo: A mitologia clássica na história cultural da Europa. Teoliterária, 11(23), 343-379.

Freud, S. (2020). Sigmund Freud: obras completas (Vol. 17). Wisehouse.

Jung, C. G. (2018). Os arquétipos e o inconsciente coletivo Vol. 9/1. Editora Vozes Limitada.

Monteiro, M. (2023). Medo, Incômodo Permanente e Ressignificação Simbólico-Religiosa:: A morte na visão das religiões judaica, cristã e islâmica. UNITAS-Revista Eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, 11(1).

Urban, E. (2005). Fordham, Jung and the self: a reexamination of Fordham's contribution to Jung's conceptualization of the self. Journal of Analytical Psychology, 50(5), 571-594.

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