Pular para o conteúdo principal

Destaques

O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas"

  O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas" O ambiente escolar contemporâneo tem se transformado em um campo complexo de interações emocionais intensas, tensões silenciosas e manifestações de comportamentos que escapam às compreensões tradicionais da disciplina e da pedagogia. Professores, diariamente, se deparam com o desafio de ensinar conteúdos curriculares em meio a um mal-estar que ultrapassa as barreiras do pedagógico, alcançando as esferas emocionais e relacionais. A sala de aula, longe de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, revela-se cada vez mais como um espaço de conflito psíquico e de revelação de aspectos inconscientes tanto dos alunos quanto dos educadores. Diante dessa realidade, é necessário recorrer a olhares mais profundos e complexos para compreendermos o que está em jogo. A psicanálise, especialmente a contribuição de Melanie Klein, oferece ferramentas potentes para pensar os impasses das relaçõe...

Compartilhe:

Marcadores

O Ego nas Mitologias Africanas: Psicanálise e Identidade Contemporânea

 



O Ego nas Mitologias Africanas:

Psicanálise e Identidade Contemporânea

As mitologias africanas oferecem um vasto repertório de narrativas que refletem a relação entre o ego, a espiritualidade e a identidade. Nas tradições dessas culturas, o ego não é concebido como uma entidade isolada, mas como um elo intrínseco entre o indivíduo, a comunidade, os antepassados e o mundo espiritual. Esse entendimento contrasta e, ao mesmo tempo, dialoga com as teorias psicanalíticas, especialmente no que diz respeito à formação da identidade.

Nas culturas africanas, a formação do ego está intimamente ligada à experiência coletiva. A tradição oral, os rituais e as práticas espirituais são elementos fundamentais na construção de um senso de si. A identidade pessoal é fortalecida por meio da interação com os outros e com o mundo natural. Esse processo inclui o respeito pelos antepassados, a participação em cerimônias comunitárias e a transmissão de conhecimentos por meio das narrativas míticas.

Um exemplo significativo é encontrado na mitologia Yorubá, particularmente no conceito de "ori". Ori representa não apenas a cabeça física, mas também a consciência individual e a ligação com o destino pessoal. Ori é considerado o aspecto central da identidade, conectando o indivíduo à divindade suprema, Olodumare, e aos antepassados. Assim, o "eu" na cultura Yorubá não é apenas um reflexo do indivíduo, mas também de uma continuidade espiritual que transcende o tempo.

Na psicanálise, o ego é compreendido como a parte da psique que medeia os desejos inconscientes, as exigências do superego e as demandas da realidade externa. Sigmund Freud, fundador da psicanálise, enfatizou o papel do ego na formação da identidade, destacando o equilíbrio entre os impulsos instintivos (id) e as normas sociais internalizadas (superego). Carl Jung, por sua vez, expandiu essa visão ao incluir a noção de arquétipos e o inconsciente coletivo, sugerindo que a identidade é formada também por elementos culturais e universais compartilhados.

Ao comparar essas ideias com as mitologias africanas, nota-se que ambas abordagens reconhecem a importância de fatores externos e internos na construção do ego. Enquanto a psicanálise enfatiza os conflitos internos e a integração psicológica, as tradições africanas destacam a interdependência entre o indivíduo e a coletividade. Essa visão coletiva pode ser vista como um complemento às abordagens psicológicas ocidentais, promovendo um entendimento mais holístico da identidade humana.

No mundo contemporâneo, marcado por um individualismo crescente e pela desconexão das tradições, as perspectivas das mitologias africanas e da psicanálise oferecem reflexões valiosas sobre a formação da identidade. A busca pelo sentido de pertencimento e pela autocompreensão continua sendo um desafio em um contexto de globalização e diversificação cultural.

A noção de "ori", por exemplo, pode inspirar uma reconexão com a espiritualidade e com o propósito pessoal. Ao mesmo tempo, a psicanálise pode auxiliar na exploração dos conflitos internos e na busca de equilíbrio emocional. Ambas as abordagens incentivam uma reflexão sobre a importância de integrar o passado — seja ele representado pelos antepassados ou pelo inconsciente coletivo — à experiência presente, promovendo uma identidade mais rica e integrada.

A formação do ego segundo as mitologias africanas e a psicanálise oferece insights complementares sobre a identidade humana. Enquanto as narrativas africanas destacam a interdependência e a continuidade espiritual, a psicanálise foca na integração dos aspectos internos da psique. No contexto contemporâneo, o diálogo entre essas perspectivas pode enriquecer nossa compreensão da identidade, ajudando-nos a navegar pelas complexidades de um mundo em constante transformação.

Referências

Campbell, J., & Moyers, B. (2022). O poder do mito. Palas Athena Editora.

Freud, S. (2020). Sigmund Freud: obras completas (Vol. 17). Wisehouse.

Franchini A.S. As melhores histórias da mitologia africana/A. S. Franchini & Caren Seganfredo. – Porto Alegre, Rs: Artes e Ofícios, 2011 3ª edição.

Ford, C. W. (1999). O herói com rosto africano: mitos da África. Selo Negro.a

Urban, E. (2005). Fordham, Jung and the self: a reexamination of Fordham's contribution to Jung's conceptualization of the self. Journal of Analytical Psychology, 50(5), 571-594.

Comentários

Postagens mais visitadas