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A Busca pela Unidade Perdida: O Poder Transformador do Desejo
O
Poder Transformador do Desejo
O
desejo é um dos motores fundamentais da existência humana. Para Aristóteles,
ele é definido como um apetite que direciona os seres vivos em busca do que é
agradável, uma força essencial para a ação. Já Descartes, ao analisar o desejo,
o descreve como uma agitação da alma, despertada pela percepção de algo que
parece conveniente ou benéfico. Essa definição carrega a ideia de um movimento
interno que impulsiona o ser humano em direção a uma meta futura (Carneiro, 2003).
Jacques
Lacan, por sua vez, traz uma abordagem mais profunda e simbólica ao conceito.
Ele relaciona o desejo a uma experiência de falta ou incompletude, vinculando-o
à tentativa constante de recuperar uma unidade perdida. Essa percepção remonta
ao vínculo primário entre mãe e filho, representado pela conexão inicial por
meio do cordão umbilical. O corte desse cordão simboliza, para a criança, a
perda de algo essencial e cria um sentimento de separação que marca o
surgimento do desejo como uma busca incessante por preenchimento (Nunes, 2015).
O
desejo não é apenas um fenômeno abstrato; ele emerge como um impulso
profundamente enraizado tanto no corpo quanto na mente. Fisiologicamente, ele
está associado às necessidades básicas, como fome, sede e segurança, que são
traduzidas no âmbito psíquico como pulsões. Essas pulsões representam os
instintos básicos do organismo, manifestando-se no psiquismo como forças que
direcionam a ação para a satisfação de uma necessidade ou carência.
Do
ponto de vista psicológico, o desejo é descrito como um processo contínuo que
busca o que é agradável, seja um prazer imediato, uma realização pessoal ou uma
conexão emocional. Ele é o que mantém os indivíduos em movimento,
impulsionando-os a superar desafios e encontrar sentido em suas ações.
Embora
o desejo muitas vezes seja visto como uma força que gera inquietação, ele
também desempenha um papel central no equilíbrio psíquico. A realização de um
desejo traz consigo uma sensação de alívio e satisfação, ainda que momentânea,
contribuindo para estabilizar as tensões internas. Essa realização pode ocorrer
em diferentes níveis: desde a satisfação de necessidades fisiológicas básicas
até a conquista de metas complexas e abstratas, como o reconhecimento social ou
a autorrealização.
No
entanto, o desejo também é marcado por sua natureza cíclica e renovável. Uma
vez alcançado o objeto de desejo, surge um novo desejo, refletindo a dinâmica
incessante da busca humana por algo mais. É essa característica que confere ao
desejo um papel paradoxal: ele é tanto a fonte de inquietações quanto o caminho
para alívio e equilíbrio.
O
desejo, além de ser um impulso natural, é também uma força que molda o
desenvolvimento e a identidade do ser humano. Desde o nascimento, a busca por
conexão e satisfação influencia a forma como as pessoas percebem a si mesmas e
ao mundo ao seu redor. Essa busca contínua não apenas dirige ações, mas também
determina valores, prioridades e relacionamentos.
Em
última análise, o desejo é uma expressão da condição humana, revelando tanto
suas limitações quanto suas possibilidades. Ele nos lembra de nossa
incompletude e, ao mesmo tempo, nos convida a explorar o mundo em busca de
significados, experiências e conexões que nos aproximem de um estado de
equilíbrio e realização.
Referência
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de filosofia.
São Paulo: Martins Fontes, 2003. 1210 p.
Descartes, R. (1999). As paixões da
alma. Coleção: Os pensadores. Rio de Janeiro.
Carneiro, K. S. R. (2003). Desejo em
Descartes: Vontade, erro e generosidade. Cógito, 5,
69-75.
Freud, S. (2019). Cinco lições
de psicanálise (1910). Cienbook.
Moreira, E. P. (2009) ALMA E POESIA EM PLATÃO E ARISTÓTELES:
DA CORRUPÇÃO PELOS AFETOS À PURIFICAÇÃO PELA CATARSE. Revista
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Nunes,
T. R. (2015). Lacan ea negatividade do desejo. Psicologia USP, 26(3),
423-429.
Reale,
G., & Antíseri, D. (2004). História da Filosofia. Volume 1. Filosofia pagã
antiga. São Paulo. Editora Paulus.
ROUDINESCO
E PLON. Dicionário de psicanálise.
Rio de Janeiro: 1998. 874p.
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