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A Força Primordial: Vida, Mitos e Sonhos na Terra
A Força Primordial: Vida, Mitos e Sonhos na Terra
O
estudo das crenças ancestrais que moldaram as percepções humanas sobre o mundo
oferece uma visão profunda sobre como os primeiros povos compreendiam sua
existência e seu lugar no universo. No segundo tópico do capítulo dois de As
Máscaras de Deus: Mitologia Primitiva, Joseph Campbell investiga a noção de uma
força estruturadora que não apenas cria, mas sustenta toda a vida na Terra.
Esta ideia central transcende o tempo e o espaço, manifestando-se em tradições
religiosas e filosóficas de diversas culturas, desde mitologias tribais até
conceitos filosóficos complexos, como o Nous dos pré-socráticos, entendido como
o princípio que ordena o cosmo.
Para
o homem primitivo, essa força primordial não era apenas uma abstração; era uma
realidade intrínseca que moldava sua relação com a natureza e os elementos.
Diferentemente da visão moderna, onde a humanidade frequentemente se coloca em
posição de domínio sobre o meio ambiente, os povos das eras mitológicas viam-se
como parte integral do todo. Não havia distinção clara entre o ser humano e a
natureza. Dependência e reverência eram atitudes naturais diante da força que
sustentava sua existência.
A
sazonalidade das colheitas, os fenômenos climáticos e os ciclos naturais eram
vistos como manifestações tangíveis dessa força. O homem primitivo submetia-se
a esses ritmos, reconhecendo que sua sobrevivência dependia de sua capacidade
de se harmonizar com eles. A chuva, o sol e as mudanças das estações não eram
apenas eventos naturais, mas sim sinais de um poder maior, que inspiravam
respeito, temor e gratidão.
Entre
os ciclos naturais, a alternância entre o dia e a noite ocupava um lugar
central na vida desses povos. O dia, iluminado pela luz do sol, era um momento
de clareza, atividade e segurança. A luz não apenas guiava suas tarefas, mas
também simbolizava proteção e oportunidade. Durante o dia, os predadores eram
visíveis e, portanto, menos ameaçadores, permitindo aos humanos maior liberdade
e confiança para explorar, construir e buscar sustento.
Por
outro lado, a noite trazia consigo mistérios e perigos. Na escuridão, o mundo
tornava-se um lugar incerto e cheio de ameaças, onde predadores invisíveis
espreitavam e os medos mais profundos do homem emergiam. Era também um momento
de introspecção, descanso e renovação, quando os homens retornavam aos seus
refúgios e, dominados pelo sono, mergulhavam no universo dos sonhos.
Os
sonhos eram mais do que uma experiência individual; eles serviam como uma ponte
para dimensões transcendentes. Segundo Campbell, os sonhos foram a base para
muitos mitos que moldaram as tradições culturais e espirituais. Nos sonhos, o
homem primitivo se via realizando feitos impossíveis no estado de vigília:
voando, enfrentando monstros, vencendo batalhas e explorando mundos encantados.
Essas experiências oníricas forneciam simbolismos ricos, que eram projetados
nas narrativas míticas.
As
figuras fantásticas, como deuses, heróis, monstros e espíritos, surgiam como
expressões dos desejos e temores humanos. O sonho permitia que o homem
confrontasse e processasse seus medos mais profundos, enquanto os mitos
transformavam esses sonhos em narrativas coletivas que ajudavam a explicar os
mistérios da vida e do universo.
O
erotismo, uma força vital primordial, ocupava um lugar de destaque nos mitos. A
união sexual era vista como o arquétipo da criação e da continuidade da vida. O
falo, frequentemente representado em rituais e narrativas mitológicas,
simbolizava o poder criador masculino, enquanto a figura feminina, com sua
capacidade de gestar e dar à luz, era vista como um mistério profundo, ao mesmo
tempo reverenciado e temido.
Os
mitos também capturavam o paradoxo da maternidade: a mulher, que acolhe e nutre
a vida, também carrega os mistérios da morte, representados pelo ciclo de
nascimento e decadência. Essa dualidade inspirava narrativas repletas de
símbolos que exploravam os dilemas existenciais do homem primitivo.
Além
de explorar as forças naturais e espirituais, os mitos refletiam as etapas da
vida humana. Campbell identifica três grandes períodos de suscetibilidade
emocional:
Infância
e juventude, marcadas pela curiosidade, pela busca de identidade e pela incerteza.
Maturidade,
período de realização,
poder e responsabilidade.
Velhice, fase de contemplação, onde a
proximidade da morte traz reflexões sobre o significado da vida.
Cada
estágio era permeado por desafios e experiências que os mitos ajudavam a
interpretar, fornecendo orientações para lidar com os mistérios e as
transformações inevitáveis da existência.
Campbell
conclui que a crença nessa força estruturadora – seja ela representada pela
natureza, pelos deuses ou pelos ciclos da vida – é um traço universal da
humanidade. Os mitos, nascidos da combinação de sonhos, experiências e
observações, serviam como guias espirituais e psicológicos, ajudando o homem a
navegar pelas complexidades de sua existência.
Essa
força primordial, mesmo que não nomeada, continua a ressoar nos corações
humanos como um lembrete de que somos parte de algo maior, um todo interligado
que transcende nossa individualidade. Ela nos conecta ao passado ancestral, às
forças da natureza e às narrativas que moldaram as civilizações, afirmando a
beleza e o mistério da vida na Terra.
Referências
CAMPBELL, Joseph. As máscaras de Deus. Mitologia primitiva.
Tradução Carmen Fischer. - São Paulo: Palas Atenas 1992. 424 p.
NAVARRO, Regina Lins; BRAGA,
Flavio. Mitos da sexualidade. In o livro de ouro do sexo. Rio de Janeiro, 2005
pág. 21.
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