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O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas"

  O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas" O ambiente escolar contemporâneo tem se transformado em um campo complexo de interações emocionais intensas, tensões silenciosas e manifestações de comportamentos que escapam às compreensões tradicionais da disciplina e da pedagogia. Professores, diariamente, se deparam com o desafio de ensinar conteúdos curriculares em meio a um mal-estar que ultrapassa as barreiras do pedagógico, alcançando as esferas emocionais e relacionais. A sala de aula, longe de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, revela-se cada vez mais como um espaço de conflito psíquico e de revelação de aspectos inconscientes tanto dos alunos quanto dos educadores. Diante dessa realidade, é necessário recorrer a olhares mais profundos e complexos para compreendermos o que está em jogo. A psicanálise, especialmente a contribuição de Melanie Klein, oferece ferramentas potentes para pensar os impasses das relaçõe...

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O Encontro Entre Desejo e Catarse: Caminhos para a Tranquilidade da Alma

 



O Encontro Entre Desejo e Catarse:

Caminhos para a Tranquilidade da Alma

A busca pela tranquilidade da alma, o equilíbrio psíquico e emocional, sempre foi uma das mais profundas e universais inquietações humanas. Desde as civilizações antigas até as sociedades contemporâneas, o ser humano tem se dedicado à compreensão e à busca de processos que proporcionem paz interior e serenidade. Nesse contexto, dois conceitos fundamentais surgem como elementos chave nessa jornada: o desejo e a catarse. Embora esses dois conceitos representem processos distintos, eles compartilham um objetivo essencial: proporcionar a tranquilidade da alma, aliviando as tensões que comprometem o equilíbrio emocional e psicológico do indivíduo.

O, com sua natureza ativa e motivadora, é muitas vezes visto como o motor que impulsiona o ser humano em direção ao que considera desejável, seja no campo material, emocional ou espiritual. Trata-se de um impulso vital que nos move em direção a algo que promete satisfação, prazer ou realização. O desejo é essencialmente a manifestação de uma busca por aquilo que falta, por algo que se percebe como necessário para o bem-estar e felicidade. Ele surge como uma necessidade, seja ela objetiva, como a busca por comida, abrigo ou saúde, ou subjetiva, como a procura por reconhecimento, afeto, poder ou autossatisfação.

De acordo com os grandes pensadores da filosofia, como Aristóteles, o desejo é um apetite da alma que busca aquilo que traz prazer e evita o que causa dor. Para Descartes, o desejo é a agitação da alma, uma forma de movimento psíquico que ocorre quando percebemos algo como conveniente ou vantajoso (Descartes, 1999). No entanto, para o psicanalista Jacques Lacan, o desejo vai além de uma simples necessidade; ele está profundamente enraizado na experiência da falta. Lacan sugere que o desejo é o reflexo de uma lacuna existencial originada na infância, quando a criança vivencia a perda da unidade primitiva com a mãe ao ser separada do cordão umbilical. Nesse sentido, o desejo é uma tentativa contínua de recuperar essa unidade perdida, o que o torna essencialmente insaciável e perpetuamente insatisfeito (Nunes,2015).

O desejo, ao se manifestar, age como uma força que mobiliza o indivíduo, trazendo consigo a promessa de alívio e preenchimento. Quando o desejo é alcançado, é possível experimentar momentos de prazer, satisfação e uma sensação de completude temporária. No entanto, essa sensação de plenitude é muitas vezes efêmera, pois novos desejos surgem continuamente, empurrando o indivíduo em direção a uma busca incessante por algo novo, algo melhor, algo mais. Dessa forma, o desejo mantém o indivíduo em um estado de constante movimento, mas também de constante busca por algo que, em última análise, pode nunca ser completamente alcançado, o que gera uma sensação de insatisfação contínua.

Por outro lado, a catarse representa um processo diferente, mas igualmente necessário para o equilíbrio da alma. Enquanto o desejo busca a aquisição de algo externo que supostamente trará a felicidade, a catarse foca na eliminação das tensões internas, na purificação das emoções reprimidas e das influências negativas que afetam a psique. A catarse pode ser entendida como um processo de purificação emocional, um tipo de "limpeza" psicológica que libera o indivíduo de suas cargas emocionais pesadas, como o medo, a raiva, a tristeza e os traumas não resolvidos. O termo “catarse” tem raízes na filosofia de Aristóteles, que o utilizou para descrever a purificação emocional que ocorre através da arte e da tragédia, permitindo que os espectadores experimentem e se liberte de emoções intensas de uma forma segura e controlada.

Na visão de Platão, a catarse é a discriminação entre o melhor e o pior, ou a capacidade de distinguir aquilo que é verdadeiramente bom e essencial para a alma de tudo aquilo que não contribui para o seu bem-estar (Moreira, 2009). Para Freud, a catarse é um processo psicológico de purgação, no qual as paixões negativas, como as pulsões reprimidas ou os conflitos internos, são liberadas, aliviando as tensões psíquicas (Freud, 2019). Ao contrário do desejo, que está ligado a uma busca ativa e insaciável, a catarse busca a liberação passiva de elementos que causam distúrbios, permitindo uma restauração da harmonia interior. Em uma análise terapêutica, a catarse pode ocorrer por meio de vivências intensas, de processos artísticos, ou por meio de expressões emocionais que permitem ao indivíduo acessar e liberar o que estava reprimido em sua psique.

Embora o desejo e a catarse pareçam processos distintos, eles convergem no propósito de restaurar a tranquilidade da alma. Ambos, de maneiras diferentes, visam o equilíbrio emocional e psicológico. O desejo, ao ser alcançado, oferece um alívio temporário e uma sensação de prazer ou realização. No entanto, como uma força que está em constante busca, o desejo não oferece uma solução permanente para as tensões internas. Já a catarse, ao purificar a alma, promove um alívio mais profundo e duradouro, permitindo que o indivíduo experimente uma serenidade estável. Em vez de buscar algo fora de si, a catarse libera o indivíduo das tensões internas e das limitações psicológicas, permitindo que ele alcance um estado de tranquilidade duradouro, que não depende da realização de desejos externos.

Esses dois processos podem coexistir e se complementar. A realização dos desejos pode trazer uma sensação imediata de satisfação e prazer, mas a catarse proporciona uma preparação emocional que prepara o indivíduo para lidar com esses desejos de uma forma mais saudável e equilibrada. Em outras palavras, a catarse não elimina o desejo, mas ajuda a limpar as energias psíquicas, permitindo que o indivíduo possa buscar seus desejos de forma mais consciente e equilibrada, sem se perder em uma busca incessante e insaciável que pode causar sofrimento. Dessa forma, o processo de purificação emocional proporcionado pela catarse pode preparar a mente e o coração para um desejo mais puro e mais alinhado com os valores internos do indivíduo.

Por fim, podemos concluir que a constante busca pelo equilíbrio emocional, seja por meio da realização de desejos ou da purificação proporcionada pela catarse, é uma jornada vital para o ser humano. Ambos representam caminhos complementares que, se seguidos de maneira consciente, podem levar à harmonia interna, essencial para o bem-estar mental, emocional e espiritual. Quando o desejo e a catarse se encontram, quando a mente e o coração encontram um equilíbrio entre o que se busca e o que se libera, o ser humano pode alcançar um estado de serenidade plena. Esse encontro entre desejo e catarse oferece o que a alma mais almeja: uma paz duradoura e profunda, que não depende da satisfação constante de desejos ou da eliminação incessante de tensões, mas sim de uma integração harmônica entre essas duas forças poderosas que moldam nossa experiência humana.

 

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 1210 p.

Descartes, R. (1999). As paixões da alma. Coleção: Os pensadores. Rio de Janeiro.

Freud, S. (2019). Cinco lições de psicanálise (1910). Cienbook.

Moreira, E. P. (2009) ALMA E POESIA EM PLATÃO E ARISTÓTELES: DA CORRUPÇÃO PELOS AFETOS À PURIFICAÇÃO PELA CATARSE. Revista Aproximação, 14.

Nunes, T. R. (2015). Lacan ea negatividade do desejo. Psicologia USP26(3), 423-429.

Reale, G., & Antíseri, D. (2004). História da Filosofia. Volume 1. Filosofia pagã antiga. São Paulo. Editora Paulus.

ROUDINESCO E PLON. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: 1998. 874p. 

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