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O Encontro Entre Desejo e Catarse: Caminhos para a Tranquilidade da Alma
O Encontro Entre Desejo e Catarse:
Caminhos para a Tranquilidade da Alma
A
busca pela tranquilidade da alma, o equilíbrio psíquico e emocional, sempre foi
uma das mais profundas e universais inquietações humanas. Desde as civilizações
antigas até as sociedades contemporâneas, o ser humano tem se dedicado à
compreensão e à busca de processos que proporcionem paz interior e serenidade.
Nesse contexto, dois conceitos fundamentais surgem como elementos chave nessa
jornada: o desejo e a catarse. Embora esses dois conceitos representem
processos distintos, eles compartilham um objetivo essencial: proporcionar a
tranquilidade da alma, aliviando as tensões que comprometem o equilíbrio
emocional e psicológico do indivíduo.
O,
com sua natureza ativa e motivadora, é muitas vezes visto como o motor que
impulsiona o ser humano em direção ao que considera desejável, seja no campo
material, emocional ou espiritual. Trata-se de um impulso vital que nos move em
direção a algo que promete satisfação, prazer ou realização. O desejo é
essencialmente a manifestação de uma busca por aquilo que falta, por algo que
se percebe como necessário para o bem-estar e felicidade. Ele surge como uma
necessidade, seja ela objetiva, como a busca por comida, abrigo ou saúde, ou
subjetiva, como a procura por reconhecimento, afeto, poder ou autossatisfação.
De
acordo com os grandes pensadores da filosofia, como Aristóteles, o desejo é um
apetite da alma que busca aquilo que traz prazer e evita o que causa dor. Para
Descartes, o desejo é a agitação da alma, uma forma de movimento psíquico que
ocorre quando percebemos algo como conveniente ou vantajoso (Descartes, 1999).
No entanto, para o psicanalista Jacques Lacan, o desejo vai além de uma simples
necessidade; ele está profundamente enraizado na experiência da falta. Lacan
sugere que o desejo é o reflexo de uma lacuna existencial originada na
infância, quando a criança vivencia a perda da unidade primitiva com a mãe ao
ser separada do cordão umbilical. Nesse sentido, o desejo é uma tentativa
contínua de recuperar essa unidade perdida, o que o torna essencialmente
insaciável e perpetuamente insatisfeito (Nunes,2015).
O
desejo, ao se manifestar, age como uma força que mobiliza o indivíduo, trazendo
consigo a promessa de alívio e preenchimento. Quando o desejo é alcançado, é
possível experimentar momentos de prazer, satisfação e uma sensação de
completude temporária. No entanto, essa sensação de plenitude é muitas vezes
efêmera, pois novos desejos surgem continuamente, empurrando o indivíduo em
direção a uma busca incessante por algo novo, algo melhor, algo mais. Dessa
forma, o desejo mantém o indivíduo em um estado de constante movimento, mas
também de constante busca por algo que, em última análise, pode nunca ser
completamente alcançado, o que gera uma sensação de insatisfação contínua.
Por
outro lado, a catarse representa um processo diferente, mas igualmente
necessário para o equilíbrio da alma. Enquanto o desejo busca a aquisição de
algo externo que supostamente trará a felicidade, a catarse foca na eliminação
das tensões internas, na purificação das emoções reprimidas e das influências
negativas que afetam a psique. A catarse pode ser entendida como um processo de
purificação emocional, um tipo de "limpeza" psicológica que libera o
indivíduo de suas cargas emocionais pesadas, como o medo, a raiva, a tristeza e
os traumas não resolvidos. O termo “catarse” tem raízes na filosofia de
Aristóteles, que o utilizou para descrever a purificação emocional que ocorre
através da arte e da tragédia, permitindo que os espectadores experimentem e se
liberte de emoções intensas de uma forma segura e controlada.
Na
visão de Platão, a catarse é a discriminação entre o melhor e o pior, ou a
capacidade de distinguir aquilo que é verdadeiramente bom e essencial para a
alma de tudo aquilo que não contribui para o seu bem-estar (Moreira, 2009).
Para Freud, a catarse é um processo psicológico de purgação, no qual as paixões
negativas, como as pulsões reprimidas ou os conflitos internos, são liberadas,
aliviando as tensões psíquicas (Freud, 2019). Ao contrário do desejo, que
está ligado a uma busca ativa e insaciável, a catarse busca a liberação passiva
de elementos que causam distúrbios, permitindo uma restauração da harmonia
interior. Em uma análise terapêutica, a catarse pode ocorrer por meio de
vivências intensas, de processos artísticos, ou por meio de expressões emocionais
que permitem ao indivíduo acessar e liberar o que estava reprimido em sua
psique.
Embora
o desejo e a catarse pareçam processos distintos, eles convergem no propósito
de restaurar a tranquilidade da alma. Ambos, de maneiras diferentes, visam o
equilíbrio emocional e psicológico. O desejo, ao ser alcançado, oferece um
alívio temporário e uma sensação de prazer ou realização. No entanto, como uma
força que está em constante busca, o desejo não oferece uma solução permanente
para as tensões internas. Já a catarse, ao purificar a alma, promove um alívio
mais profundo e duradouro, permitindo que o indivíduo experimente uma
serenidade estável. Em vez de buscar algo fora de si, a catarse libera o
indivíduo das tensões internas e das limitações psicológicas, permitindo que
ele alcance um estado de tranquilidade duradouro, que não depende da realização
de desejos externos.
Esses
dois processos podem coexistir e se complementar. A realização dos desejos pode
trazer uma sensação imediata de satisfação e prazer, mas a catarse proporciona
uma preparação emocional que prepara o indivíduo para lidar com esses desejos
de uma forma mais saudável e equilibrada. Em outras palavras, a catarse não
elimina o desejo, mas ajuda a limpar as energias psíquicas, permitindo que o
indivíduo possa buscar seus desejos de forma mais consciente e equilibrada, sem
se perder em uma busca incessante e insaciável que pode causar sofrimento.
Dessa forma, o processo de purificação emocional proporcionado pela catarse
pode preparar a mente e o coração para um desejo mais puro e mais alinhado com
os valores internos do indivíduo.
Por
fim, podemos concluir que a constante busca pelo equilíbrio emocional, seja por
meio da realização de desejos ou da purificação proporcionada pela catarse, é
uma jornada vital para o ser humano. Ambos representam caminhos complementares
que, se seguidos de maneira consciente, podem levar à harmonia interna,
essencial para o bem-estar mental, emocional e espiritual. Quando o desejo e a
catarse se encontram, quando a mente e o coração encontram um equilíbrio entre
o que se busca e o que se libera, o ser humano pode alcançar um estado de
serenidade plena. Esse encontro entre desejo e catarse oferece o que a alma
mais almeja: uma paz duradoura e profunda, que não depende da satisfação
constante de desejos ou da eliminação incessante de tensões, mas sim de uma
integração harmônica entre essas duas forças poderosas que moldam nossa
experiência humana.
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 2003. 1210 p.
Descartes, R.
(1999). As paixões da alma. Coleção: Os pensadores. Rio de Janeiro.
Freud,
S. (2019). Cinco lições de psicanálise (1910). Cienbook.
Moreira,
E. P. (2009) ALMA E POESIA EM PLATÃO E ARISTÓTELES:
DA CORRUPÇÃO PELOS AFETOS À PURIFICAÇÃO PELA CATARSE. Revista
Aproximação, 14.
Nunes, T. R. (2015). Lacan ea
negatividade do desejo. Psicologia USP, 26(3), 423-429.
Reale, G., & Antíseri, D. (2004).
História da Filosofia. Volume 1. Filosofia pagã antiga. São Paulo.
Editora Paulus.
ROUDINESCO E PLON. Dicionário de psicanálise. Rio de
Janeiro: 1998. 874p.
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