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O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas"

  O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas" O ambiente escolar contemporâneo tem se transformado em um campo complexo de interações emocionais intensas, tensões silenciosas e manifestações de comportamentos que escapam às compreensões tradicionais da disciplina e da pedagogia. Professores, diariamente, se deparam com o desafio de ensinar conteúdos curriculares em meio a um mal-estar que ultrapassa as barreiras do pedagógico, alcançando as esferas emocionais e relacionais. A sala de aula, longe de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, revela-se cada vez mais como um espaço de conflito psíquico e de revelação de aspectos inconscientes tanto dos alunos quanto dos educadores. Diante dessa realidade, é necessário recorrer a olhares mais profundos e complexos para compreendermos o que está em jogo. A psicanálise, especialmente a contribuição de Melanie Klein, oferece ferramentas potentes para pensar os impasses das relaçõe...

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O Segredo para Alcançar a Paz Interior



O Segredo para Alcançar a Paz Interior

Professor Gabriel G. Oliveira, Filósofo e Psicanalista

 

A busca pela tranquilidade da alma, ou Psychē, é uma característica profundamente enraizada na experiência humana. Desde os tempos mais antigos, observa-se em diferentes culturas um anseio universal por alcançar uma existência mais pacífica, marcada pelo menor nível de desconforto possível. Esse desejo não se limita ao indivíduo isolado; ele também permeia as estruturas coletivas das sociedades, que frequentemente criam rituais, filosofias e sistemas de crença voltados para aliviar as inquietações da mente e do espírito.

Entre os muitos pensadores que abordaram essa questão, destacam-se os filósofos helenistas, como os epicuristas e os estoicos. Eles introduziram o conceito de ataraxia, definido como um estado de tranquilidade da alma e ausência de perturbações. Para os estoicos, por exemplo, a paz interior era alcançada por meio do controle das paixões e da aceitação do destino, enquanto os epicuristas sugeriam que a felicidade vinha do prazer moderado e da ausência de dor. (Reale & Antíseri, 2004).

Essas ideias foram apresentadas como guias práticos para a vida, ajudando os indivíduos a lidar com as angústias da existência. A relevância desses conceitos transcende o tempo, continuando a influenciar a forma como buscamos equilíbrio em meio às adversidades modernas.

O desejo é um dos pilares dessa busca pela tranquilidade. Ele pode ser entendido como um impulso fundamental que motiva os seres vivos em direção ao que é agradável ou necessário. Desde Aristóteles, que o definiu como um apetite direcionado ao prazer (Silvano, 2023), até Descartes, que o descreveu como uma agitação da alma diante de algo que parece conveniente, o desejo é retratado como um motor essencial para a ação humana (Descartes, 1999).

Na psicanálise, Jacques Lacan aprofunda a compreensão do desejo, conectando-o a uma sensação de incompletude. Segundo ele, o desejo é movido pela busca incessante por algo que restaura uma unidade perdida, simbolizada pelo vínculo inicial entre mãe e filho. Esse anseio, embora muitas vezes impossível de satisfazer completamente, é o que impulsiona o indivíduo a buscar significado e realização em sua vida (Miller, 2014).

Enquanto o desejo representa o movimento em direção ao que é agradável, a catarse oferece um caminho de purificação e libertação. Platão, por exemplo, via a catarse como um processo de separação entre o melhor e o pior, uma prática que purifica a alma ao livrá-la das paixões que a corrompem. Aristóteles, por sua vez, destacou o papel da catarse na arte, especialmente na tragédia, como uma forma de purgação emocional que traz serenidade ao espectador (Moreira, 2009).

No contexto moderno, a catarse continua a ser valorizada como um mecanismo de alívio emocional, seja por meio da arte, da terapia ou de práticas espirituais. Sigmund Freud, por exemplo, usou o termo para descrever a libertação das paixões reprimidas no processo terapêutico, permitindo ao indivíduo alcançar uma maior compreensão e equilíbrio interno (Freud, 2019). 

Embora o desejo e a catarse sejam conceitos distintos, eles convergem em seu objetivo comum: proporcionar alívio à alma humana. Enquanto o desejo nos move em direção à realização de algo que consideramos agradável, a catarse nos liberta do que nos perturba, restaurando nossa paz interior.

Essa complementaridade evidencia que a tranquilidade da alma pode ser alcançada tanto pela busca ativa de satisfação quanto pela liberação de tensões acumuladas. A interação entre esses dois processos reflete a complexidade do psiquismo humano, que oscila entre o anseio pelo prazer e a necessidade de purificação.

A busca pela tranquilidade da alma não é um estado permanente, mas uma jornada contínua. Seja por meio do desejo, que nos impulsiona a avançar, ou da catarse, que nos permite aliviar o peso das experiências, essa caminhada reflete a essência da condição humana.

Em um mundo cada vez mais acelerado, a compreensão desses conceitos oferece um mapa valioso para navegar pelas complexidades da mente e do espírito, ajudando-nos a encontrar equilíbrio em meio às turbulências da vida.

 

Referências

Descartes, R. (1999). As paixões da alma. Coleção: Os pensadores. Rio de Janeiro.

Miller, J. A. (2014). Apresentação do Seminário 6: O desejo e sua interpretação, de Jacques Lacan. Opção Lacaniana5(4), 1-19.

Moreira, E. P. (2009) ALMA E POESIA EM PLATÃO E ARISTÓTELES: DA CORRUPÇÃO PELOS AFETOS À PURIFICAÇÃO PELA CATARSE. Revista Aproximação, 14.

Reale, G., & Antíseri, D. (2004). História da Filosofia. Volume 1. Filosofia pagã antiga. São Paulo. Editora Paulus.

Freud, S. (2019). Cinco lições de psicanálise (1910). Cienbook.

Silvano, E. G. (2023). A harmonia entre razão e apetite para se alcançar a virtude da temperança em Aristóteles.

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