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O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas"

  O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas" O ambiente escolar contemporâneo tem se transformado em um campo complexo de interações emocionais intensas, tensões silenciosas e manifestações de comportamentos que escapam às compreensões tradicionais da disciplina e da pedagogia. Professores, diariamente, se deparam com o desafio de ensinar conteúdos curriculares em meio a um mal-estar que ultrapassa as barreiras do pedagógico, alcançando as esferas emocionais e relacionais. A sala de aula, longe de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, revela-se cada vez mais como um espaço de conflito psíquico e de revelação de aspectos inconscientes tanto dos alunos quanto dos educadores. Diante dessa realidade, é necessário recorrer a olhares mais profundos e complexos para compreendermos o que está em jogo. A psicanálise, especialmente a contribuição de Melanie Klein, oferece ferramentas potentes para pensar os impasses das relaçõe...

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A ESTAMPAGEM OU MARCAS DAS EXPERIÊNCIAS


 


A ESTAMPAGEM OU MARCAS DAS EXPERIÊNCIAS

SEGUNDO JOSEPH CAMPBELL

Professor Gabriel G. Oliveira, Filósofo e Psicanalista

 O tempo e as nossas experiências cotidianas nos deixam marcas que, em muitos casos, podem influenciar de forma negativa os nossos mais diversos relacionamentos. Desde muito cedo em nossas vidas somos impactados por acontecimentos que podem ser representados como verdadeiras feridas, em alguns momentos a partir de experiências factuais, às vezes na imagem que elaboramos a respeito de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. Sofrimentose alegrias podem ser “gravados” em nossas mentes como verdadeiras marcas[1]. Por esse motivo é importante termos conhecimentos de certos fatos marcantes em nossas vidas.

Em sua obra as Máscaras de Deus, especificamente no livro Mitologia Primitiva, Campbell faz uma relação entre sofrimento e êxtase, essas duas experiências muito presentes nas vidas humanas, tornam-se fundamentais para a organização psicológicas dos indivíduos. Através de certas experiências que, “sofrer é sentir dor física ou moral, padecer, ter resistência a; aguentar, suportar”. E o êxtase é um “estado de quem se encontra como que transportado para fora de si e do mundo sensível, por efeito de exaltação mística ou de sentimentos muito intensos de alegria, prazer, admiração, temor reverente etc.”[2] Talvez, em algum momento de sua vida, você já tenha experimentado algo com muita intensidade. Seja em momento de extrema alegria, ou de muita dor. (Campbell, 1992).

Segundo Campbell (1992), as “marcas comuns às mitologias têm a sua origem no que é grave e constante”. E a marca principal é o sofrimento, o que ele julga ser a matéria prima da tragédia. Isto nos faz lembrar a importância da tragédia na formação dos homens gregos. Podemos encontrar o relato de várias tragédias no desenvolvimento dos mitos gregos. Um dos mais famosos é o relato do episódio de Édipo Rei. Nessas tragédias encontramos os efeitos de determinadas ocorrências envolvendo o sofrimento humano. O que é relatado pelas tragédias, tem a função de realizar a catarse, a purgação das emoções, sobretudo no que tange a compaixão e o terror. Dizia Aristóteles, que do ponto de vista psicológico a catarse tem o poder de agir como uma purificação do espírito.

Conforme Campbell (1992), o “rito por alterar o foco da mente, a tragédia transmuta o sofrimento em êxtase. Nesse sentido, os rituais presentes nos mitos exercem a função de auxiliar o homem a lidar com o sofrimento”. Ao realizarem seus rituais, os seres humanos da era mitológica “uniam-se em compaixão trágica com o sofrimento do outro”. A exaltação presentes nos rituais, em que ao lidar com o sofrimento, tinha o sentido de levar o ser humano ao estado de êxtase e, ao atingir esta condição o homem passa a acreditar que seu espírito seria capaz de transcender as fronteiras normais da experiência humana.

Em algumas culturas sempre existiu a crença de que a verdadeira sabedoria era adquirida através do sofrimento, da privação, condição fundamental para a abertura da mente para a totalidade. Nesta situação, o sofrimento torna-se o apogeu da vida humana. Ele é capaz de levar o ser humano a estabelecer uma relação com o mistério do seu ser. Com a mente aberta à profundidade de sua existência.

“Eis aqui a causa secreta conhecida não sob o estado de terror, mas de êxtase. E o seu único admirador é o espírito totalmente purificado, que ultrapassou as fronteiras normais da experiência humana, do pensamento e da fala, ‘ali onde o olho não chega’, lemos no Kena Upanisad da India, ‘a fala não chega e tampouco a mente’ (Campbell, 1992). A verdadeira sabedoria está longe ao ser humano, fora na vasta solidão e pode ser alcançada apenas através do sofrimento. Apenas a privação e o sofrimento podem abrir A mente do ser humano a tudo o que está escondido.

A experiência de sofrimento e êxtase leva o ser humano a entender melhor o sentido de sua existência. Em muitos casos, a experiência vivenciada no ritual, sobretudo, a experiência do êxtase em relação à a ideia de morte e ressureição, não são utilizadas para enganar, ser o ópio do povo, mas torna-se o tema supremo da mitologia que não é o tema da agonia da busca, mas o êxtase da revelação. Portanto, sofrimento e êxtase são as marcas, ou melhor, a estampagem da experiência de vida e de morte.

Referência

CAMPBELL, Joseph.  As máscaras de Deus. Mitologia primitiva. Tradução Carmen Fischer. - São Paulo: Palas Atenas 1992. 424 p.



[1] Algumas pessoas  têm em seus próprios corpos, marcas que influenciam as suas formas de agirem.

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