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O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas"

  O Inconsciente em Cena: Relações Professor-Aluno sob a Ótica das Posições Kleinianas" O ambiente escolar contemporâneo tem se transformado em um campo complexo de interações emocionais intensas, tensões silenciosas e manifestações de comportamentos que escapam às compreensões tradicionais da disciplina e da pedagogia. Professores, diariamente, se deparam com o desafio de ensinar conteúdos curriculares em meio a um mal-estar que ultrapassa as barreiras do pedagógico, alcançando as esferas emocionais e relacionais. A sala de aula, longe de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, revela-se cada vez mais como um espaço de conflito psíquico e de revelação de aspectos inconscientes tanto dos alunos quanto dos educadores. Diante dessa realidade, é necessário recorrer a olhares mais profundos e complexos para compreendermos o que está em jogo. A psicanálise, especialmente a contribuição de Melanie Klein, oferece ferramentas potentes para pensar os impasses das relaçõe...

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Por Que a Vida Moderna Nos Angustia e Como Lidar com Isso



 Por Que a Vida Moderna Nos Angustia e Como Lidar com Isso

A angústia de viver é uma das maiores preocupações do ser humano. Desde que percebemos que nossa vida tem um fim, começamos a carregar um peso emocional difícil de ignorar. Desde o nascimento, o ser humano enfrenta desafios. A sensação de segurança no útero dá lugar a um mundo cheio de incertezas, algo que o psicanalista Otto Rank chamou de "Trauma de Nascimento". Segundo ele, esse seria o primeiro trauma da vida, servindo como base para o desenvolvimento da angústia ao longo da nossa existência (Rank, 2016). Na psicanálise, desde Freud até os dias de hoje, muitas teorias tentam explicar a origem dessa inquietação. Embora não seja possível explorar todas elas aqui, o objetivo é fazer você refletir: por que cada vez mais pessoas nas sociedades modernas se sentem angustiadas?

A angústia, embora desconfortável, é uma parte intrínseca da experiência humana. Ela surge como uma resposta natural às incertezas, desafios e limitações que enfrentamos ao longo da vida. Até certo ponto, a angústia é considerada um sentimento normal, funcionando como um alerta que nos motiva a buscar mudanças, soluções ou novos caminhos. Em muitos casos, ela pode ser um motor de crescimento, impulsionando-nos a refletir sobre nossa existência e a tomar decisões que enriqueçam nossa vida (Werle, 2003).  

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, dedicou parte de seus estudos à compreensão de como lidamos com a angústia. Ele identificou três principais mecanismos que os seres humanos desenvolvem para enfrentar esse sentimento:

Religião: a busca de um significado maior na fé ou em crenças espirituais, que oferecem conforto diante do desconhecido e uma sensação de segurança frente à imprevisibilidade da vida.

Arte: um espaço criativo onde podemos expressar nossas emoções, aliviar tensões internas e explorar o nosso potencial de forma construtiva.

Uso de substâncias: uma tentativa de aliviar temporariamente a angústia por meio de entorpecentes, que proporcionam uma fuga momentânea da realidade, mas que muitas vezes acabam trazendo mais problemas do que soluções.

Entre essas alternativas, Freud considerava a arte como o caminho mais enriquecedor. Por meio dela, temos a oportunidade de canalizar nossos sentimentos em algo produtivo, transformando a angústia em criatividade. A arte, em suas inúmeras formas – como pintura, música, escrita ou dança –, permite que o ser humano acesse aspectos profundos de sua psique, dando significado às emoções que, de outra forma, poderiam parecer opressivas ou sem sentido (Freud, 1926).

No entanto, um fenômeno intrigante observado nas sociedades modernas é a crescente sensação de vazio, muitas vezes associada à falta de criatividade. A rotina mecanizada, o excesso de estímulos externos e a busca constante por produtividade parecem sufocar a capacidade de reflexão e espontaneidade das pessoas. Nesse contexto, o ser humano pode se sentir desconectado de si mesmo, o que resulta em um estado conhecido como "vazio existencial".

Esse vazio não é apenas uma ausência de ocupação ou tédio, mas um estado psicológico mais profundo, caracterizado pela sensação de que a vida perdeu o sentido. Isso pode se manifestar de várias maneiras: dificuldades em tomar decisões, falta de engajamento nas relações interpessoais, desmotivação para realizar atividades cotidianas e até mesmo um sentimento generalizado de apatia.

Um exemplo comum desse vazio pode ser observado no contexto familiar. Muitas pessoas relatam dificuldades em criar os filhos em um mundo que parece estar em constante transformação, sem diretrizes claras. As pressões sociais e as mudanças nas dinâmicas familiares contribuem para um cenário de incerteza que pode ser angustiante. Da mesma forma, relacionamentos interpessoais – sejam eles amorosos, de amizade ou profissionais – também podem sofrer quando a angústia não é compreendida ou enfrentada adequadamente.

Além disso, o impacto da angústia no dia a dia vai além do nível individual. A sociedade moderna, com seu ritmo acelerado e exigências cada vez maiores, tende a valorizar a eficiência e o sucesso material, muitas vezes à custa do bem-estar emocional. Essa mentalidade pode gerar um ciclo vicioso, onde as pessoas se sentem pressionadas a "fazer mais", sem tempo para refletir sobre o que realmente lhes traz satisfação ou propósito (Horney, et al., 1966).

O estilo de vida moderno, frequentemente automático e sem espaço para introspecção, priva o ser humano de momentos de conexão consigo mesmo e com os outros. Essa desconexão resulta não apenas em decisões apressadas ou superficiais, mas também em uma dificuldade crescente de lidar com situações comuns, como resolver conflitos no trabalho, manter uma comunicação saudável nos relacionamentos ou até mesmo desfrutar de pequenos prazeres da vida cotidiana.

A angústia, embora seja um sentimento natural e, em certa medida, esperado ao longo da vida, pode se transformar em um problema sério quando ultrapassa determinados limites. O ritmo acelerado e as pressões constantes das relações sociais modernas muitas vezes sobrecarregam a mente e o corpo, dificultando a adaptação a um mundo em constante transformação. Esse desequilíbrio emocional, quando não identificado e tratado, pode evoluir para condições mais graves que impactam diretamente a qualidade de vida (Comte-Sponville, 1997).

O sofrimento causado pela incapacidade de lidar com os desafios do dia a dia vai além da sensação temporária de mal-estar ou desconforto. Ele pode se intensificar a ponto de desencadear doenças mentais significativas, como:

1. Síndrome do Pânico

A síndrome do pânico é uma condição caracterizada por crises súbitas de ansiedade intensa, acompanhadas de sintomas físicos como falta de ar, palpitações, suor excessivo, tontura e uma sensação avassaladora de medo ou morte iminente. Essas crises podem ocorrer sem um motivo aparente, tornando a experiência ainda mais assustadora para quem sofre com o problema.

O impacto da síndrome do pânico vai além dos episódios em si. Muitas pessoas passam a evitar lugares ou situações onde acreditam que podem ter uma crise, o que pode levar a um isolamento social progressivo. Com o tempo, essa restrição de atividades e interações pode comprometer a capacidade de levar uma vida normal, gerando ainda mais angústia e sensação de impotência (Pinheiro, 2004).

2. Depressão

A depressão, muitas vezes relacionada a um estado prolongado de angústia, é uma das condições mais comuns no mundo moderno. Trata-se de um transtorno psicológico caracterizado por sentimentos persistentes de tristeza, desespero, perda de interesse em atividades antes prazerosas e baixa autoestima.

Embora a depressão possa ter várias causas – incluindo predisposição genética, desequilíbrios químicos no cérebro e fatores ambientais – o estresse contínuo e a dificuldade em lidar com a angústia desempenham um papel significativo. A pressão para atender às expectativas sociais, a competitividade no trabalho, a instabilidade financeira e os desafios nos relacionamentos pessoais podem contribuir para o surgimento ou agravamento desse transtorno.

Os sintomas de depressão vão além das emoções. Muitas vezes, a condição se manifesta fisicamente, causando insônia, fadiga, alterações no apetite e dores inexplicáveis. A depressão não tratada pode levar a consequências graves, incluindo ideação suicida, reforçando a importância de procurar ajuda profissional o quanto antes (Delouya, 2000).

3. Fobias

As fobias são outro exemplo de como a angústia pode evoluir para condições debilitantes. Elas se manifestam como medos irracionais e persistentes de objetos, situações ou atividades específicas, como altura, espaços fechados, multidões ou mesmo interações sociais.

Embora muitas pessoas possam viver com certos medos sem que isso afete significativamente suas vidas, em casos mais graves, as fobias podem limitar drasticamente a capacidade de realização de atividades cotidianas. Por exemplo, alguém com fobia social pode evitar interações em grupo, prejudicando suas relações pessoais e profissionais (Freud, 2021).

Além das condições mencionadas, a angústia mal gerida pode contribuir para o surgimento de outros transtornos, como:

Ansiedade generalizada: um estado contínuo de preocupação excessiva, mesmo diante de situações sem risco real (Zuardi, 2017).

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC): marcado por pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos que a pessoa sente necessidade de realizar para aliviar a angústia (Gonzalez, 1999).

Burnout: resultado do estresse crônico, especialmente relacionado ao trabalho, caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e sensação de baixa realização pessoal (Pêgo, & Pêgo, 2016).

O estilo de vida moderno muitas vezes exacerba a angústia. A hiperconectividade proporcionada pela tecnologia, por exemplo, pode aumentar a pressão social e profissional. Somos bombardeados por informações, expectativas e comparações, muitas vezes levando à sensação de que nunca somos "suficientes". Esse cenário contribui para o desenvolvimento de transtornos psicológicos, pois reduz o tempo e a energia disponíveis para cuidar do bem-estar emocional (Bohrer, 2010).

Quando a angústia se torna doença, ela não afeta apenas o indivíduo, mas também suas relações, desempenho no trabalho e qualidade de vida como um todo. É crucial reconhecer os sinais de que a angústia deixou de ser uma reação normal aos desafios da vida e se transformou em um problema de saúde mental.

A angústia, embora dolorosa, não precisa definir o curso da sua vida. Ela pode ser um convite silencioso à transformação, uma oportunidade de refletir sobre o que realmente importa e de redescobrir novos caminhos que levem ao crescimento e à realização. A boa notícia é que, por mais desafiadora que pareça, a mudança é possível – e ela começa com a decisão de olhar para dentro.

Não há uma fórmula única para superar a angústia, pois cada jornada é única. O que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra, e está tudo bem. O importante é estar disposto a explorar, experimentar e, acima de tudo, acreditar na sua capacidade de mudança

Referências

Bohrer, L. C. T. (2010). O Problema da angústia. Revista Psicologia e Saúde.

Comte-Sponville, A. (1997). Bom dia, angústia. São Paulo: Companhia das Letras.

Delouya, D. (2000). Depressão (Vol. 5). Casa do Psicólogo.

Freud, S. (1926). Inibição, Sintoma e Angústia. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud v. XX (1976).

Freud, S. (2021). Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Imago editora.

Gonzalez, C. H. (1999). Transtorno obsessivo-compulsivo. Brazilian Journal of Psychiatry, 21, 31-34.

Horney, K., Gil, F., & Dinis, J. S. (1966). A personalidade neurótica do nosso tempo.

Pêgo, F. P. L., & Pêgo, D. R. (2016). Síndrome de burnout. Rev. bras. med. trab, 171-176.

Pinheiro, M. (2004). A clínica da síndrome do pânico. IGT na Rede ISSN 1807-2526, 1(1).

Rank, O. (2016). O trauma do nascimento: e seu significado para a psicanálise. São Paulo: Cienbook1.

Werle, M. A. (2003). A angústia, o nada e a morte em Heidegger. Trans/Form/Ação26, 97-113.

Zuardi, A. W. (2017). Características básicas do transtorno de ansiedade generalizada. Medicina (Ribeirao Preto. Online), 50, 51-55.

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