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Não há pessoas narcísicas, mas sim egocêntricas: uma análise conceitual e cultural
Não há pessoas narcísicas, mas sim egocêntricas:
uma
análise conceitual e cultural
O
termo narcisismo tem suas raízes históricas e conceituais profundas, carregando
significados que evoluíram ao longo do tempo. Introduzido pela primeira vez em
1887 pelo psicólogo francês Albert Binet, o narcisismo foi descrito
inicialmente como uma forma de fetichismo, onde o indivíduo tornava-se objeto
de seu próprio desejo. Posteriormente, em 1898, Havelock Ellis associou o
conceito ao mito grego de Narciso, trazendo à tona um comportamento considerado
perverso naquela época (Roudinesco & Plon, 1998).
Na
mitologia grega, Narciso é a personificação do amor excessivo por si mesmo, um
jovem que se apaixona por sua própria imagem refletida na água, conforme
narrado por Ovídio em suas Metamorfoses. Este mito, ricamente simbólico,
serviu como uma metáfora para discutir o amor-próprio em termos psicológicos e
sociológicos. Até o final do século XIX, o narcisismo era visto
majoritariamente como uma perversão sexual. Entretanto, em 1908, Isidor Sadger
redefiniu o conceito como uma etapa normal no desenvolvimento psicossexual
humano, destacando seu papel no amor-próprio e na escolha de objetos afetivos (Roudinesco
& Plon, 1998).
Sigmund
Freud, em 1910, ampliou ainda mais a compreensão do narcisismo ao utilizá-lo em
seus Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Freud observou que o
narcisismo inicial do indivíduo poderia levar à escolha de parceiros
semelhantes a si mesmo, um reflexo do amor recebido na infância (Roudinesco &
Plon, 1998).
No
entanto, essa rica história do narcisismo contrasta com o uso popular e
impreciso do termo hoje. Muitas vezes, o narcisismo é confundido com o egocentrismo,
que possui uma definição distinta: é a atitude ou comportamento voltado
exclusivamente para si mesmo, com pouca ou nenhuma consideração pelas
necessidades ou sentimentos alheios.
Enquanto
o narcisismo, em sua essência, é um conceito psicológico com camadas de
significados e está ligado ao desenvolvimento humano, o egocentrismo é uma
característica comportamental superficial, marcada pela insensibilidade às
preocupações dos outros. Um indivíduo egocêntrico não necessariamente possui a
profundidade emocional ou as motivações inconscientes que definem o narcisismo
no contexto clínico ou teórico.
No
discurso cotidiano, é comum rotular pessoas como “narcisistas” quando, na
verdade, estamos lidando com comportamentos egocêntricos. Isso reflete uma
simplificação dos conceitos psicológicos, muitas vezes influenciada por
interpretações populares que desconsideram a história e a complexidade do termo
narcisismo.
Dizer
que "não há pessoas narcísicas, mas sim egocêntricas" é, em parte, um
convite à reflexão sobre o uso cuidadoso dos termos. Enquanto o narcisismo tem
raízes profundas e significados multifacetados, o egocentrismo é uma
característica mais direta, que se manifesta em atitudes voltadas para si
mesmo. Respeitar as nuances desses conceitos não apenas enriquece nossa
compreensão das relações humanas, mas também evita julgamentos superficiais
sobre o comportamento alheio.
Referência
Roudinesco,
E., & Plon, M. (1998). Dicionário de psicanálise/Elisabeth
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