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O Medo à Liberdade: Como a Acomodação Social Está Matando Nossas Utopias.
O Medo
à Liberdade:
Como a
Acomodação Social Está Matando Nossas Utopias
O
conceito de "sociedade de deserção" evoca uma realidade em que os
indivíduos, ao invés de assumirem a responsabilidade coletiva de engajar-se na
construção de uma sociedade mais justa e solidária, optam por um afastamento
silencioso e gradual das suas obrigações sociais e políticas. Esse afastamento
é alimentado pela aceitação de relações protocolares, isto é, formas
superficiais de interação social que mascaram o desinteresse profundo por
mudanças estruturais. O resultado é uma forma de convivência marcada pela
acomodação e pelo conformismo, na qual as pessoas se limitam a seguir regras e
convenções sem questionar as injustiças e desigualdades subjacentes à ordem
estabelecida.
Essa
acomodação social surge como reflexo de um medo generalizado à liberdade. O
conceito de liberdade, aqui, não se refere apenas à liberdade individual de
fazer escolhas, mas à liberdade como responsabilidade ativa de transformar a
realidade ao nosso redor. Para muitos, essa liberdade é assustadora porque
exige uma ruptura com o conforto da previsibilidade e da segurança que as
estruturas de poder proporcionam. Abdicar dessa liberdade ativa leva a um
estado de apatia, no qual os indivíduos preferem aceitar passivamente a
realidade tal como ela é, em vez de lutar por transformações. Este medo à
liberdade se manifesta, entre outros, na aceitação de sistemas injustos que
mantêm privilégios para poucos e exclusão para muitos.
A
aceitação sem perspectivas de uma sociedade mais justa e solidária é a
consequência direta desse medo. A esperança de uma mudança radical ou o
engajamento com utopias que propõem uma nova ordem social são vistos, cada vez
mais, como ideais irrealizáveis ou ingênuos. Essa visão gera uma espécie de
morte das utopias, onde o sonho de um futuro melhor é substituído pela crença
de que qualquer tentativa de mudança será inglória ou ineficaz. Essa descrença
generalizada nas utopias impede que os indivíduos se comprometam com projetos
de transformação social, pois já não acreditam na possibilidade de sucesso.
É
importante notar que essa "morte definitiva das utopias" não surge
apenas de uma falha de idealismo, mas também de uma construção deliberada por
parte de estruturas de poder que se beneficiam da apatia social. Ao convencer a
população de que as utopias são perigosas ou inúteis, essas estruturas mantêm o
status quo e consolidam um sistema onde a desigualdade e a injustiça permanecem
incontestadas. O fim das utopias, assim, não é apenas o fim dos sonhos de
transformação, mas a consolidação de um sistema que evita ativamente a
transformação.
O
resultado desse ciclo é uma sociedade cada vez mais atomizada e fragmentada,
onde as relações humanas se tornam protocolares e formais, sem profundidade
emocional ou solidariedade genuína. A conexão entre os indivíduos é
enfraquecida, e a ideia de comunidade e responsabilidade coletiva dá lugar ao
individualismo exacerbado. Neste cenário, a noção de um "bem comum"
se torna obsoleta, e as pessoas passam a se preocupar apenas com sua própria
sobrevivência e sucesso dentro dos limites estreitos impostos pela ordem social
vigente.
Em
suma, a "sociedade de deserção" é um reflexo de um medo coletivo de
liberdade, uma acomodação que mata a possibilidade de sonhar com um mundo mais
justo e solidário. A morte das utopias não é apenas a perda de uma visão
futura, mas a aceitação resignada de um presente que se perpetua em sua
injustiça. Para reverter esse quadro, seria necessário não apenas resgatar o
poder das utopias, mas também redescobrir a coragem de viver em liberdade,
compreendida como a responsabilidade de agir e transformar, não apenas de
escolher entre opções previamente determinadas pelo sistema.
Professor Gabriel de Oliveira
Psicanalista
https://docs.google.com/document/d/1bUcKBo4gLkgqNEwJbUnutIvUF3ZlTwMJCvcn8Yka7R0/edit?usp=sharing
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