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A Montagem da Personalidade Neurótica: Uma Análise Abrangente
A Montagem da Personalidade Neurótica:
Uma
Análise Abrangente
Atualmente,
é amplamente aceito que os distúrbios neuróticos têm sua origem na formação da
personalidade e, em alguns casos, até mesmo no caráter do indivíduo. Essa
aceitação começou a ganhar força a partir das contribuições de Sigmund Freud,
que descreveu as neuroses como “doenças nervosas”. Freud argumentava que os
sintomas psíquicos das neuroses simbolizam conflitos vividos na infância,
revelando que as experiências infantis desempenham um papel crucial na
configuração da saúde mental do adulto.
Freud
fundamentou sua teoria sobre as neuroses na noção de inadequação da vida sexual
do sujeito, sugerindo que essas dificuldades têm raízes profundas na infância
precoce. Para embasar essa ideia, Freud introduziu o conceito de libido, uma
energia psíquica vinculada ao desejo e às pulsões sexuais. Durante o
desenvolvimento humano, a libido seria reorganizada em diferentes fases, cada
uma delas centrada em uma “zona erógena” específica, como a oral, a anal ou a
fálica. Esse processo de reorganização define não apenas as fantasias básicas
do indivíduo, mas também suas modalidades de relação com os objetos e pessoas
ao seu redor (Freud, 2016).
A
teoria freudiana é extensa e apresenta uma estrutura complexa que abrange
aspectos biológicos, psicológicos e sociais do ser humano. Em sua essência,
Freud via o desenvolvimento psíquico como um percurso dividido em fases, cada
qual marcada por desafios e possibilidades de fixação. Por exemplo, na fase
oral, o prazer está associado às atividades relacionadas à boca, como a
alimentação e a sucção. Se, por alguma razão, a libido se fixa nessa fase, o
indivíduo pode desenvolver um caráter marcado por avidez ou dependência,
caracterizado pela busca incessante de "abocanhar" ou consumir tudo
ao seu redor, tanto em termos físicos quanto simbólicos.
A
formação da personalidade neurótica, segundo Freud, está intimamente ligada ao
conceito de fixação da libido em uma dessas fases de desenvolvimento. Além
disso, ele postulou que os conflitos neuróticos derivam do fluxo inadequado ou
obstruído dessa energia psíquica. A concepção freudiana, portanto, adota uma
perspectiva bio-fisicista, interpretando os fenômenos neuróticos como
manifestações de desequilíbrios no sistema de energia psíquica do ser humano (Freud,
2016).
Enquanto
a teoria freudiana foca predominantemente nos aspectos intrapsíquicos e
biológicos, escolas de pensamento mais recentes, como a chamada escola
culturalista, trouxeram uma nova dimensão para a compreensão das neuroses. De
acordo com essa abordagem, muitos conflitos neuróticos são, em última análise,
determinados por condições culturais e sociais. Essa perspectiva sugere que os
valores, normas e pressões sociais impostos ao indivíduo podem gerar tensões
que contribuem para o desenvolvimento de sintomas neuróticos (Viana, 2009).
Por
exemplo, um indivíduo criado em uma cultura que valoriza excessivamente o
sucesso material pode sentir uma pressão constante para corresponder a esses
padrões. Essa pressão pode levar à internalização de expectativas irreais e,
consequentemente, à formação de conflitos internos. Assim, a neurose, nesse
contexto, é vista como uma resposta a um desequilíbrio entre as demandas
culturais e as capacidades internas do sujeito para lidar com elas.
Embora
existam diferenças significativas entre as abordagens freudianas e
culturalistas, muitos estudiosos contemporâneos buscam integrar essas
perspectivas, reconhecendo que a formação da personalidade neurótica é um
fenômeno multidimensional. Os fatores biológicos, como o fluxo da libido e a
estrutura psíquica, interagem com os fatores culturais e sociais, criando um
panorama complexo que molda a experiência de cada indivíduo (Schwartz,1981).
Por
exemplo, um indivíduo pode carregar predisposições biológicas para a ansiedade
ou a depressão, mas o ambiente em que ele é criado pode amplificar ou mitigar
essas tendências. Um ambiente acolhedor e compreensivo pode oferecer
ferramentas para lidar com essas predisposições, enquanto um ambiente opressivo
pode reforçar a formação de padrões neuróticos.
A
montagem da personalidade neurótica é um processo complexo que abrange aspectos
biológicos, psicológicos, sociais e culturais. A visão freudiana destacou o
papel dos primeiros anos de vida, as fixações da libido e os conflitos
intrapsíquicos como elementos centrais na formação da neurose. Por outro lado,
a escola culturalista ampliou essa compreensão ao incorporar o impacto das
pressões sociais e culturais na configuração da saúde mental.
Compreender
a interação entre esses fatores é essencial para desenvolver intervenções
terapêuticas mais eficazes e humanizadas. Reconhecer que a neurose não é apenas
um reflexo de processos internos, mas também uma resposta às demandas externas,
permite abordar a saúde mental de maneira mais ampla, considerando o indivíduo
em seu contexto completo. Assim, a análise da personalidade neurótica se torna
um espelho poderoso para refletir sobre a complexidade da experiência humana.
Referência
Freud,
S. (2016). Neurose, psicose, perversão. Autêntica.
Viana,
N. (2009). Erich Fromm e a Renovação da Psicanálise. Revista Espaço
Livre, 4(08), 31-37.
Schwartz, F.
(1981). Psychic structure. The International Journal of Psycho-Analysis, 62,
61.
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